Espetáculo teatral revela as facetas do cangaceiro que enfrentou Lampião

 

Construída a partir de fatos verídicos, a peça “Volta Seca – O sentinela do cangaço” é baseada na vida de Antonio dos Santos, considerado o lugar tenente mais importante de Lampião.  Recrutado ainda criança por Corisco, o cangaceiro foi testemunha ocular do primeiro encontro de Virgulino Ferreira e Maria Bonita, do nascimento das crianças do cangaço, de batalhas históricas no sertão baiano e foi o único cangaceiro que ousou enfrentar Lampião.

A peça estreou no dia 05 de julho no Espaço Xisto Bahia, em Salvador, e estende sua temporada até 09 de agosto, com sessões sempre às quintas-feiras, 20h. O monólogo é encenado pelo próprio autor, o ator e diretor Edmar Dias (fundador dos Terapeutas do Riso), sob a direção de Fábio Nieto Lopez (premiado no festival Mapa Cultural Paulista). Dois encontros, duas encruzilhadas, marcaram a vida do personagem e pontuam a encenação: o avistamento com Lampião aos 11 anos e a visão, anos depois, de uma jovem freira que, como ele, amava a música: Irmã Dulce.

A narrativa encontra seu clímax no episódio que encerraria sua vida no cangaço, abrindo caminho para o encontro futuro com a freira: o momento em que enfrenta Lampião. Ao insistir em socorrer o cangaceiro Bananeira, ferido em combate, Volta Seca contrariou as ordens do capitão, que não viu outro jeito de assegurar sua autoridade no bando senão dar cabo do insolente. Avisado por Maria Bonita, o jovem cangaceiro, então com 14 anos, abandona o acampamento e acaba preso.

O ex-cangaceiro conheceu Irmã Dulce na prisão da Coreia, em Salvador, e lhe jurou que nunca mais pegaria em armas. A amizade com a jovem freira, que costumava visitar o presídio se deu por causa da música, sanfoneira e amante da música, a irmã encontrou em Volta Seca um talento musical incomum: tocava realejo, era entoado ao cantar e já havia composto várias músicas. Entre as canções de sua autoria estão “Acorda Maria Bonita” e “Mulher Rendeira”, parte da trilha sonora de “O Cangaceiro”, que foi premiada em Cannes.

Narrativa e direção - Escrito em um ato para o teatro, o texto é documental e revela as perseguições das volantes, o treinamento dos “cabras” e suas estratégias de combate, em uma narrativa que percorre o campo das ideias e ações do bando. Apesar da referência histórica, o texto não se limita a ser um documento de um período distante. O plano da narrativa, que se apresenta como “prosa” aparentemente improvisada, se dá em um ambiente onírico, em que a linguagem teatral se articula em sua concepção poética, sonora e plástica.

A trajetória de Volta Seca se apresenta materialmente para a plateia, que é convidada a subir ao palco com o personagem. A direção cuidou para que a atmosfera de cumplicidade estivesse sempre presente durante a montagem, na qual o personagem fala de sua história para convidados como se estivesse em seu próprio quintal. Volta Seca aparece entre o passado e o presente, entre fantasias e realidades, entre seu mundo e o nosso. Dessa forma, se confundem os aspectos históricos da convivência do cangaceiro com Lampião e suas descrições fantasiosas das batalhas.

A peça tem trilha sonora de Denis Wan-dick Corbi, cenário de Yoshi Aguiar, coreografia de Dalvinha Gomes, figurino e maquiagem de Renata Cardoso, iluminação de Nando Zâmbia, preparação vocal de Marcelo Jardim e pesquisa de Edmar Dias e Fábio Nieto Lopez.